Por: Irmãos M. C.
– Ei, você, pode me ouvir? Gostaria de compartilhar reflexões.
– Sim, pois não.
– Que bom! Antes de tudo quero que saiba que não trago verdades, apenas me coloquei a refletir e a sonhar!
– Sim.
– Sonho com o dia em que o egoísmo e o altruísmo caminharão lado a lado, juntos, de mãos dadas.
– Será? Ao que me consta ser egoísta é pensar somente em si, em detrimento de outros. Ser altruísta é exatamente o oposto, é pensar nos outros e em suas necessidades. Como duas coisas opostas podem se encontrar?
– Eu me explico! Falo de uma face do egoísmo, se é que isso seja possível. Da face do cuidar de si, de atender as próprias necessidades. E o quanto esta atitude também o é, em sua essência altruísta. Confuso?
– Parece, me explique mais.
– Pergunto: quem convive continua e ininterruptamente comigo mesmo?
– Ora, você mesmo.
– Então, não é natural o zelo por mim? Não é natural me cuidar?
– Sim, não posso negar.
– E ao zelar, me cuidar, identifico necessidades, simples, complexas, nobres, espúrias, vazias, físicas, emocionais. Entendo que é doloroso demais sofrer, adoecer, me ferir. Daí dedico atenção a mim mesmo, atendo minhas necessidades e desejos, sejam de que natureza forem.
– Estou entendendo. Por favor, continue.
– Esse afã comigo mesmo não poderia ser categorizado como uma atitude altruísta? Quando me cuido, atendo minhas demandas, não delego a outros cuidar de minhas dores e lhe causar sofrimentos e isto não é oferecer ao meio onde vivo o meu melhor?
– Sim.
– Cuidada e acolhida em minhas necessidades percebo também que somente conseguirei de fato estar bem, segura e atender ao que me é necessário se o mundo em que vivo contribua para tal intento. Então, acaba por ser fundamental eu auxiliar no bem maior, no bem comum, no apoio a outros para que suas demandas também sejam atendidas. Quando, cada um de nós colabora para um mundo melhor, o mundo pessoal de cada um também melhora.
– Interessante. É uma ação conjunta. Muitas ideias a se pensar. Um sonho, não?
– Sim, o sonho da reconciliação!
– Reconciliação, como assim?
– Exatamente. Quando olho para mim e me pego no colo, contribuo comigo, não delego aos outros a dolorosa tarefa de me curar, posto impossível. Isso é também altruísmo. Posso também aceitar o auxílio de outros e posso também, quanto mais inteira estou, ir ao socorro de muitos. Estranho, mas parece que auto amor e o amor por outros são duas faces da mesma moeda. Cada um entendendo que amar, em última instância, significa amar o outro.
– Me perdi, não falavas sobre amar a si mesmo.
– Isso é um binômio, pois a almejada felicidade não acontece em duas dimensões, dentro de nós ou fora de nós. É um fenômeno multidimensional, acontecendo na plenitude do ser, por onde quer que ele se manifeste. Qualquer um caminhando em plenitude, dará o seu melhor a favor de si e dos outros.
– Fale um pouco mais.
– Acho que há uma lição, ensinada há séculos, que resume tudo isso: Amar ao próximo como a ti mesmo!
Nesse momento, com espanto, o interlocutor olhou no fundo de seus olhos no espelho.
Irmãos M. C.
Ele é advogado, ela é psicóloga e ambos gostam de conviver, conversar e refletir sobre a vida.